26 de dezembro de 2011

Comunhão

Pablo Picasso: A Tragédia (1903)
Chora em silêncio
o sofrimento do mundo
a dor dos silenciados
a angústia dos ameaçados
o acusador último alento
de quem nasceu condenado

Chora aos gritos
a rebeldia do mundo
o amor dos aborrecidos
a persistência dos desprezados
a coragem de quem diante da morte
ainda ergue uma esperança

19 de dezembro de 2011

Silêncio

silêncio
esmoreçamos os verbos
adormeçamos as palavras
e abafemos os relatos
que os nossos olhares
quereres e afazeres
se expressem livremente
sem confusão nem engano

silêncio
abandonemos as discussões
chega de debates e teorias
reclamações e explicações
não profanemos esta quietude
quando o nosso coração se nutre
com a memória dos gestos
que eternizaram nosso afeto

silêncio
desistamos dos discursos
que nos ferem sem clemência
pois as palavras que tanto amamos
nos traíram sem piedade
revivamos nas lembranças
o que a boca não soube modelar
e abracemos em paz esta fecunda calma

silêncio...

12 de dezembro de 2011

Com ímpeto renovado

Novos ventos se levantaram
Emergindo das sombras
Quebrantando o silêncio
São vontades, sonhos, lutas
Sementes germinadas
No aconchego do conflito
Rebentos de utopia
Cuidados com mimo
Resguardados dos temporais
Adubados com pranto
Alimentados com sangue

Nem a noite, nem o frio
Deterão este furacão
De vida transformada

Nem os medos, nem os ciúmes
Esfriarão o ardor
Deste amor fecundo

Novos fogos e novos ventos
Desataram um futuro ignoto
Um horizonte de esperança
Um despertar de coragem
Para enfrentar o amanhã
Com ímpeto renovado

5 de dezembro de 2011

Ecos íntimos

Ressoam tambores e atabaques
Por entre os vales e montanhas
Vozes de couro e madeira
Nascidas no coração da história
Para animar a dança e instigar a luta
No combate pela vida
Insuflando a coragem
E acordando os covardes

Ressoam no silêncio noturno
As cantigas dos namorados
Vozes de afeto e perdão
Semeadas no coração da vida
Para alimentar os gestos
e alentar a entrega
Agradecendo a carícia
E aquecendo os sonhos

Ressoam no íntimo do universo
Os rumores dos medos eternos
Vozes de desconfiança e receio
Surgidas no coração da natureza
Quando o horizonte nos desafia
E as estrelas nos interrogam
O que tua vida à vida alheia acrescentou?
Quanto amor com teu amor germinou?